Necessidade de qualificação constante e possibilidade de trabalho remoto foram alguns dos assuntos abordados pelos debatedores
A diretora-executiva do SEST SENAT, Nicole Goulart, participou nesta terça-feira (16) da mesa redonda “Trabalho 4.0”, realizada durante o Fórum Jurídico de Lisboa. O evento é promovido pelo IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), pela FGV (Fundação Getulio Vargas) e pelo Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (ICJP).
Na ocasião, a diretora ressaltou o empenho do SEST SENAT em prol da qualificação de mão de obra para o setor de transporte e refletiu sobre o avanço, durante a pandemia, dos cursos e dos atendimentos em saúde ofertados a distância pela entidade.
“Hoje, existe uma carência de mão de obra qualificada. Percebemos que havia um gap a ser sanado e que ele poderia ser preenchido pelo Sistema S. Nesse contexto, a intenção do SEST SENAT é entregar ao mercado um trabalhador preparado, para que as empresas possam inovar e serem competitivas”, apontou. “Principalmente, ensinamos a esses profissionais como é importante aprender a aprender. Se eles não se limitarem ao mero desempenho de um cargo, poderão ser um grande diferencial para suas empresas”, completou.
Nicole Goulart também destacou a atuação da instituição na oferta de serviços online que garantem um acesso facilitado. “Durante a pandemia, à exceção dos atendimentos em odontologia, todos os nossos serviços passaram também a ser ofertados de forma online. Entendemos que essa inovação veio para ficar, uma vez que o nosso cliente economiza o tempo de deslocamento até a unidade operacional e, por outro lado, consegue ter a mesma qualidade de atendimento”, destaca.
Também participante do encontro, a desembargadora federal Daniele Maranhão Costa, do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, mencionou que o advento da indústria 4.0 desencadeou “uma movimentação, que fez com que as estruturas tradicionais de trabalho verdadeiramente implodissem”. A desembargadora enfatizou as mudanças recentemente vividas no Judiciário brasileiro, com ênfase na lógica dos tribunais, que já trabalham com processo judicial eletrônico e, agora, caminham para a implantação do juízo 100%, em que pesem as atuais vedações da Loman (Lei Orgânica da Magistratura Nacional) aos magistratura a distância.
Em sua fala, João Zenha Martins, professor associado da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, sugeriu cautela com a flexibilização das leis trabalhistas, causada pela disrupção tecnológica. “A lógica se modificou definitivamente. As pessoas não mais vão ao trabalho, mas o trabalho vai às pessoas. Devemos atentar para um conjunto dos trabalhadores que operam no setor informal, sob risco de repristinar a lógica do século 19”, alertou. O professor lembrou, ainda, que os avanços da robótica podem levar a um cenário inédito, de total impessoalidade no mundo do trabalho. “Há uma tendência que as ordens sejam emitidas de forma automática, sem comando humano”, apontou.
O deputado federal Gastão Vieira (PROS-MA) apresentou números recentes sobre a baixa eficácia do letramento no país, que teria piorado durante a pandemia. “Estou convencido de que é preciso formar a mão de obra para o futuro que está vindo. Para isso, porém, teremos de melhorar consideravelmente a entrada da criança na escola, onde se dá o processo de alfabetização. Nossa distorção idade/série chega a 50%”, lamentou. O parlamentar falou sobre o crescimento do mercado informal e sobre a compressão salarial vivida no país. “Hoje, nivelou-se por baixo. Sabemos que o indivíduo de ensino superior completo disputa a mesma vaga com aquele que cursou o fundamental”, exemplificou.
Os debates foram moderados pelo professor do IDP, José Roberto Afonso, que também é sócio-fundador da consultoria Finance e vice-presidente do Fórum de Integração Brasil Europa. “Quão importante é a educação para fazer o link com o futuro?”, questionou, salientando a participação dos mais jovens. “Você precisa re-treinar os trabalhadores para adquirir novas habilidades, de modo a atender às novas demandas que estão postas, mas, sobretudo, precisa dar formação aos trabalhadores que estão entrando. Tem se falado em ‘habilidade’ em vez de educação – isso porque aprender a aprender será fundamental para se ter uma posição no mundo 4.0”, resumiu.
Fonte: Agência CNT