Perdas estimadas em até R$ 62 bilhões levam estado a buscar apoio federal para manter arrecadação e implementar programa de flexibilização
O Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Rio Grande do Sul (SETCERGS) apresentou ao Governo do Estado o programa “MOVENDO RS/Pró-Cargas”, com uma série de ações necessárias a serem colocadas em prática para revitalizar o transporte rodoviário de cargas no Rio Grande do Sul.
A iniciativa busca oferecer incentivos essenciais para a renovação e manutenção das frotas, infraestrutura e empregos, em resposta aos impactos devastadores das recentes calamidades que afetaram transportadores em todo o estado.
O diretor de Gestão do SETCERGS, Roberto Machado, salientou que com a atual calamidade pública, praticamente todas as empresas do Rio Grande do Sul sofreram prejuízos.
“Foram mais de 60 estradas afetadas e mais de vinte pontes que precisarão ser reconstruídas. Os desvios elevam os custos e aumentam o tempo de entrega. Se perde faturamento e daí vem o prejuízo”, descreveu.
O programa está estruturado em três pilares, que contemplem incentivos na aquisição e recondicionamento de equipamentos, melhora na política de créditos — tais como pneus, peças e outros itens, de modo a incentivar o ecossistema da indústria, do comércio e do transporte gaúchos, bem como se sugeriu a adequação do processo administrativo e dos procedimentos burocráticos de emplacamento e licenciamento. Também esteve presente na reunião o assessor Jurídico do SETCERGS, Fernado Massignan.
Com os prejuízos das enchentes preliminarmente estimados em R$ 22 bilhões em negócios que deixam de ser feitos e de R$ 35 bilhões a R$ 40 bilhões em perdas com equipamentos — como máquinas e veículos, além de instalações —, o governo do Rio Grande do Sul pede socorro da União para garantir em 2024 nível de arrecadação equivalente ao de 2023 e um programa de flexibilização de contratos para trabalhadores do setor privado, semelhante ao da chamada Lei do Bem [Benefício de Manutenção de Emprego e Renda], adotada na pandemia. As informações são do Valor Econômico.
IMPACTOS NA LOGÍSTICA
Deslizamentos, pontes quebradas e pistas que cederam com a força da água isolaram uma série de cidades, deixando suas populações sem ter para onde ir. Rotas que eram comumente usadas para escoar a produção agrícola foram severamente atingidas, o que prejudica o transporte de cargas em todo o estado e também no restante do país
Empresas do segmento logístico têm enfrentado dificuldades para atuar no estado, o que é um problema até mesmo para garantir a entrega das doações que chegam de todos os cantos do Brasil para as vítimas das enchentes. O CEO da Angel Lira, Marcio Lira, explica que a infraestrutura precária é justamente um dos principais obstáculos para o transporte de cargas.
“Estradas mal-conservadas, portos congestionados e aeroportos saturados normalmente já resultam em atrasos, danos às mercadorias e custos adicionais””, pontuou. Ele observa que a atual situação das estradas gaúchas é mais um dos desafios trazidos pelas condições climáticas devastadoras que atingiram o estado.
ECONOMIA DEVE SOFRER COM A RECUPERAÇÃO DOS TRECHOS
Não é de hoje que a dependência econômica das rodovias é um problema para o país. Embora sejam responsáveis pelo escoamento da produção, apenas 15% das estradas brasileiras são pavimentadas. As informações são parte de um levantamento realizado pela Fundação Dom Cabral. Longos trechos vitais para que esse escoamento seja eficiente seguem sem nenhum tipo de manutenção há vários anos.
Segundo o professor do MBA em Finanças e Controladoria da Universidade Positivo (UP), Hugo Meza, a dependência brasileira das rodovias é um problema econômico. “Atrasos na cadeia de suprimentos causam escassez e aumento de preços. Os produtos perecíveis são perdidos, o que impacta o agronegócio. Além disso, a sobrecarga de infraestrutura alternativa exige investimentos adicionais. Por fim, pode haver redução do PIB devido à interrupção na logística e produção”, detalhou.
Segundo estimado por autoridades estaduais e federais, recuperar as estradas gaúchas impactadas pelas enchentes deve custar R$ 2,5 bilhões. Mesmo assim, o especialista destaca a importância de fazer essa recuperação o quanto antes.
Para ele, a pressa para consertar as estradas no Rio Grande do Sul é necessária para restabelecer o transporte de mercadorias e, com isso, o fluxo econômico, mitigar perdas agrícolas e industriais, estimular o crescimento econômico, atrair investimentos e manter o crescimento do PIB, reduzir o desemprego, melhorar a qualidade de vida, manter a competitividade internacional e, até mesmo, prevenir futuras calamidades.
“A reconstrução das rodovias oferece a oportunidade de criar uma infraestrutura mais resiliente, capaz de suportar melhor futuros desastres naturais, minimizando os impactos econômicos e sociais. Investir agora em uma infraestrutura robusta pode reduzir custos futuros de manutenção e reparos, evitando despesas maiores em longo prazo”, detalhou.
Na avaliação do CEO da Angel Lira, condições climáticas e geográficas são fatores que costumam impactar o transporte de cargas. “O Brasil é um país vasto, com uma variedade de condições que têm influência sobre o transporte de cargas. Temos desde regiões sujeitas a enchentes e deslizamentos de terra até áreas remotas de difícil acesso. As estratégias de planejamento e mitigação de riscos devem considerar estes fatores não apenas neste momento, mas em toda e qualquer operação”, completou.
Fonte: Mundo Logística