Em um cenário de incertezas na economia, transportadores estão com receio de inviabilizar operações se novas altas se acontecerem
O preço do diesel apresentou salto expressivo nos quatro primeiros meses deste ano no Rio Grande do Sul. Entre a primeira semana de janeiro e a semana fechada em 30 de abril, o preço médio do litro desse combustível cresceu 22% nos postos do Estado. No mesmo período, o valor médio da gasolina comum avançou 6%. Os dados fazem parte de pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que leva em conta os valores praticados nos postos. No caso do diesel, esse avanço deve ganhar mais força nas próximas semanas diante de novo aumento praticado pela Petrobras nas refinarias a partir desta terça-feira (10).
No dia 8 de janeiro, o preço médio do óleo diesel no Estado estava em R$ 5,240. No dia 30 de abril, esse valor fechou a semana em R$ 6,384, segundo o levantamento da ANP.
O presidente do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Rio Grande do Sul (Sulpetro), João Carlos Dal’Aqua, afirma que o maior avanço no preço do diesel está ligado ao momento da atividade econômica. A retomada da indústria e do agronegócio aumenta a demanda por esse tipo de combustível e isso é um dos fatores que impactam no avanço de preço, segundo o dirigente. Dal’Aqua avalia que o crescimento nos valores dos combustíveis, principalmente no diesel, pressiona o orçamento dos postos.
— A margem de revenda não aumenta. Pelo contrário, fica pressionada. Quanto maior o preço, maior a dificuldade para fechar a conta. Isso traz uma dificuldade maior tanto para o posto quanto para o próprio consumidor — diz Dal’Aqua.
O ex-superintendente de Abastecimento da ANP e economista-chefe da ES Petro, Edson Silva, lembra que esse aumento nos preços está ligado à Política de Paridade Internacional (PPI), usada pela Petrobras. Silva também destaca a diferença no tamanho dos reajustes na gasolina e no diesel.
— O aumento no preço do diesel praticado pela Petrobras foi maior do que o da gasolina. No Rio Grande do Sul, o impacto foi menor por conta da carga tributária que diminuiu no Estado — explica o economista.
O vice-presidente de transportes do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (SETCERGS), Diego Tomasi, salienta que o diesel é responsável por uma faixa entre 35% a 50% do custo operacional do transporte. Nesse sentido, qualquer variação no valor do litro do insumo acaba afetando as tabelas de preço do setor, segundo Tomasi:
— É a principal despesa que os transportadores têm e, toda vez que tem um reajuste no preço do combustível, não tem muito o que fazer a não ser repassar esse aumento para as tarifas de frete.
O dirigente da SETCERGS cita que sempre existe certa dificuldade nesse processo de repasse de preços, porque alguns embarcadores buscam meios alternativos de transporte e outras formas de minimizar esse impacto. Tomasi destaca que, como o transporte rodoviário é o principal meio para escoar as riquezas do Estado, cada aumento de preço no diesel acaba chegando nas prateleiras. Isso pressiona ainda mais os orçamentos das famílias.
— Não tem muito como fugir da matriz rodoviária. Nesse sentido, a gente vai ter esse impacto lá na gôndola do supermercado na prateleira da farmácia. É uma reação em cadeia que acaba sendo causada pelo preço do diesel — pontua.
Cenário incerto para os próximos meses
Os efeitos da guerra na Ucrânia nos preços das commodities e o impacto das eleições presidenciais no valor do dólar no Brasil são alguns dos ingredientes que podem afetar o preço dos combustíveis no país nos próximos meses. Como esses cenários são incertos, é difícil prever como os preços vão se comportar em um futuro próximo, segundo especialistas ouvidos pela reportagem de GZH.
— É um cenário de muita instabilidade. Enquanto não tivermos uma definição do conflito lá na Ucrânia, uma efetiva definição em relação à pandemia, é difícil fazer qualquer previsão. Mas é um ano duro, que não vai ter novidades mágicas, um retorno ao que tínhamos há algum tempo atrás — projeta o presidente do Sulpetro.
O economista-chefe da ES Petro também afirma que é difícil estimar o cenário dos próximos meses nos valores dos combustíveis diante de tantas incertezas. No entanto, ela se arrisca a dizer que a tendência é de novos aumentos.
— Em um ano de eleições e em um ambiente de tensão aguda que estamos vivendo, acredito que a tendência do câmbio é de a nossa moeda se desvalorizar. Por consequência, isso vai ter impacto no tipo de política de preços da Petrobras — prevê Silva.
O vice-presidente de transportes SETCERGS afirma que é necessária alguma intervenção por parte do poder público para diminuir a pressão do preço do diesel no setor:
— O setor está entrando em um ponto muito preocupante, onde os transportadores estão com receio sobre a viabilidade das operações.
Fonte: GZH