No Outubro Rosa, a apresentadora fala com exclusividade ao site do SETCERGS sobre a importância do apoio das empresas às funcionárias que lutam contra o câncer de mama
Alice Bastos Neves já era sinônimo de competência e simpatia. Agora, é também de força e desprendimento, ao tornar pública sua batalha contra o câncer de mama diagnosticado no início de 2020 e aproveitar o Outubro Rosa para dispensar a peruca que usava na apresentação do Globo Esporte RS.
Neste bate-papo, a jornalista fala abertamente sobre como descobriu a doença e o desafio de continuar trabalhando durante o tratamento. Alice também deixa uma mensagem para as empresas que podem ter funcionários enfrentando o câncer.
– Como você descobriu o câncer de mama?
Eu faço sempre meus exames de rotina, e foi durante um autoexame que senti o nódulo. Ele apareceu também na ecografia mamária. Minha médica indicou então uma biópsia que acabou revelando o carcinoma.
– E como foi tua reação?
Na verdade a gente sempre fica atenta, mas não acha que a doença vai acontecer. Eu estava absolutamente fora do grupo de risco, tinha amamentado, não havia histórico na família. Minha reação imediata foi de ficar um pouco anestesiada, sentia que o mundo andava numa velocidade completamente diferente da minha.
Eu segui a vida normal, fui trabalhar, mas levei algum tempo pra entender o que estava acontecendo e como eu ia reagir àquilo. Sou muito de já tentar resolver a parada, então foram dias de correria para o médico, por que a gente entra num ciclo de exames e tenta descobrir o que fazer do jeito mais rápido possível. Eu já queria saber quem era o oncologista que ia me tratar, quem era a mastologista. São momentos de desnorteamento com o diagnóstico e, ao mesmo tempo, de querer definir o que se vai fazer.
– Como é trabalhar e fazer o tratamento ao mesmo tempo?
A quimioterapia é um tratamento muito, muito pesado. Foi bem intenso. Desde que tive o diagnóstico pensei em continuar trabalhando, por que me faz bem. Era um jeito de não ficar focada no câncer o tempo todo.
Tive a particularidade de fazer o tratamento durante a pandemia. Eu trabalhava de casa, o que facilitou minha vida pois ficava realmente mais protegida. Por outro lado, tinha que tomar mais cuidado do que todo mundo pois estava com as defesas baixas.
Ás vezes eu ficava muito cansada, não tinha forças, não tinha vontade de trabalhar. Daí eu me maquiava, olhava um texto que eu tinha que fazer, e já vinha um gás novo. Acho que isso é muito particular, cada pessoa reage de um jeito. Para mim, o trabalho foi importante para pensar em outra coisa que não na doença, no tratamento e na dor.
– O que você aconselharia para quem tem um funcionário ou funcionária passando por essa situação?
O principal é dar segurança para essa pessoa. Ter um plano de saúde já gera isso, para que outras questões possam ser encaradas. Eu, por exemplo, tive o diagnóstico no dia 20 de janeiro e, no dia 27, já foi operada, o que era indicado para o meu caso. Então é muito importante que a empresa possa dar esse suporte para que o resto aconteça com tranquilidade.
Além disso, tive um bom suporte psicológico. Conversei com muitas pessoas da empresa, das mais diversas áreas. Então o público diz: “olha que legal, a Alice tirou a peruca no Globo Esporte pra fortalecer outras mulheres”, só que tudo foi muito discutido com a empresa.
É preciso chamar a funcionária, entender como ela pretende passar por aquele momento, o que é confortável e o que não é. Tem gente que prefere não falar sobre a doença, então é preciso definir como manejar isso da melhor maneira com os colegas e com quem a empresa atende. Essa relação com a empresa é muito importante.
– Como está teu tratamento agora?
Amanhã faço a última radioterapia! Só falta essa! Depois eu volto ao oncologista e passo a fazer um tratamento sem efeitos colaterais, tomando comprimidos pelos próximos 5 anos. A parte mais pesada, da quimio e da radioterapia, já passou.
No momento que eu tirei o nódulo, na cirurgia, o médico disse que eu estava curada. O tratamento, agora, é preventivo e deve se prolongar por alguns anos.
– Que mensagem você gostaria de deixar sobre o enfrentamento ao câncer de mama?
A principal é a mensagem da prevenção. No caso do câncer de mama, isso é sinônimo de diagnóstico precoce. Significa que, se tiver que achar a doença, que se ache cedo para poder curar. Então, é preciso ter atenção ao próprio corpo e o diagnóstico precoce para garantir a cura.
A segunda coisa é reconhecer o valor do outro na nossa vida. A maternidade já tinha me aberto os olhos para isso, que a gente, sozinha, não dá conta de tudo. E, nesse enfrentamento, eu aprendi que eu preciso muito de outras pessoas. Da minha família, de quem está próximo de mim, da empresa que me deu suporte, dos amigos que foram muito importantes nessa jornada, dos médicos que me atenderam… Então é preciso entender que a gente é frágil, é finito, e que precisamos dos outros para construir nossa trajetória na vida.
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