Empresários avaliam que medidas anunciadas são insuficientes para retomada econômica do RS

Debate aconteceu durante reunião-almoço da Federasul

Empresários gaúchos avaliaram, durante o Tá Na Mesa dessa quarta-feira (19), reunião-almoço realizada pela Federasul, que as medidas anunciadas pelos governos para a retomada econômica do Rio Grande do Sul após as enchentes de maio são insuficientes. Isso porque, na visão deles, há uma discrepância entre o que os governos propõem e o que, de fato, chega para as empresas afetadas.

“Não recebemos apoio federal como foi prometido”, afirmou Ângelo Fontana, acionista e membro do conselho da Fontana S.A, com sede em Encantado. O empreendimento sofreu com três cheias desde setembro do ano passado. “A empresa está parada. Com as cheias de 2023, fiquei 150 dias parado. Agora, com a cheia de maio, paramos de novo”, relatou.

Renato Arenhart, diretor da Lajeadense Vidros, contou que a empresa perdeu a sede em Lajeado. “Tínhamos 250 toneladas de vidro em estoque. Tínhamos a sede e agora não temos mais”. Apesar disso, como opção para retomada, ele explica que parte da empresa está operando em Estrela e que uma nova sede será construída em outro terreno de Lajeado. “Pelo lado da oportunidade, podemos pensar que esse projeto com uma planta moderna não aconteceria se não fosse assim”, reconfortou.

Mais prazo para pagar dívidas e fundo garantidor são medidas para minimizar crise, avaliam empresários

De acordo com os empresários, um dos problemas é a diferença entre o que é anunciado e o que, na prática, acontece. No caso de crédito com juros subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), eles afirmam que, embora o governo anuncie uma taxa de juros de 1%, os bancos privados que repassam os valores têm autonomia para aumentar este valor (spread). “Para empresas que faturam menos de R$ 300 milhões por ano, o dinheiro não é repassado diretamente pelo BNDES”, explicou Fontana.

Eles defendem, ainda, o alongamento das dívidas. “A minha empresa, por exemplo, investiu R$ 60 milhões em três anos. Em setembro passado, teve um prejuízo de R$ 32 milhões. Com essa cheia de maio, um prejuízo de R$ 60 milhões. E isso que todos os compromissos estão em dia. Como vou pagar minhas contas a partir de amanhã se estou parado?”, questionou Fontana. Na visão dele, o governo deveria oferecer uma solução de fundo perdido (financiamento não reembolsável concedido pela administração pública).

Medidas para fundo garantidor também é um pleito dos executivos, porque muitas empresas estão devastadas, sem o fôlego necessário para conseguirem mais crédito. A linha de R$ 15 bilhões, anunciada pelo BNDES no final de maio, é vista como insuficiente pelo setor econômico. “Empresas que estão com acúmulo de prejuízo de três cheias não vão ter espaço. O banco vai emprestar para quem está saudável ou para quem está com problemas?”, refletiu o acionista da Fontana S.A.

Na coletiva, eles apontaram que é necessário ‘dinheiro novo’ e criticaram recursos liberados para a retomada que já estão disponíveis na economia, como a liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para o trabalhador.

Além disso, os empresários demonstraram preocupação em relação ao Aeroporto Internacional Salgado Filho. “Precisamos, urgentemente, desse aeroporto funcionando. Não podemos aceitar que o aeroporto opere somente em dezembro”, enfatizou o presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, que mediou o debate do Tá Na Mesa.

Mesmo com os receios e com a incerteza, os painelistas ressaltaram, porém, que parte da rotina do empreendedor tem a ver com resiliência e capacidade de adaptação. “Temos a obsessão por, mesmo com as adversidades, construir oportunidades e gerar valor para o Rio Grande do Sul. Nós [Instituto Caldeira] surgimos na pandemia. Superar esses desafios faz parte do DNA empreendedor”, avaliou Pedro Valério, CEO do Instituto Caldeira, fortemente atingido pelas cheias de maio e que teve prejuízos na ordem de R$ 35 milhões.

O padre Gerson Bartelli, presente no painel denominado “Superação pelo Empreendedorismo”, é secretário da Associação dos Amigos de Nova Roma do Sul, no interior do Estado. Ele defendeu que a sociedade civil, população e iniciativa privada, se reúnam para resolver problemas e que o governo seja mais ágil nas suas respostas ao desastre climático. Ele deu como exemplo a reconstrução da ponte que liga Nova Roma do Sul a Farroupilha, que havia sido destruída com a enchente do ano passado. “Era um padre, um agricultor, um empresário batendo de porta em porta, fazendo rifa e pedindo Pix para reconstruir a ponte. Conseguimos e ainda sobrou verba”, disse.

Fonte: JC

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