As dificuldades geradas pela Pandemia ao TRC no 1º Semestre

Quase metade das transportadoras não conseguem pagar os impostos, segundo NTC&Logística

A análise do assessor técnico da NTC&Logística, o engenheiro de transportes Antônio Lauro Valdivia Neto, destaca as dificuldades que estão sendo enfrentadas pelas transportadoras. Acompanhe um resumo:

Nos últimos anos constatou-se que as empresas que operam no setor  trabalham com fretes abaixo do custo e com margens insuficientes para bancar a complexidade das suas operações, os investimentos necessários e os riscos envolvidos de forma a garantir o seu futuro, bem como as necessidades impostas pelo mercado.

Neste período, nota-se que uma parte dos transportadores (11,1%) conseguiu reajustar o frete, sendo o segmento de transporte de carga fracionada mais eficiente no pedido de reajuste com um percentual de 22,4%. Se é que tem um lado positivo disso tudo é o fato que depois de muito tempo, a parcela que conseguiu reajustar o frete teve um índice de reajuste médio de 5,9%, acima da inflação do setor medida pelo INCT da NTC que indicou uma inflação para o período de 2,57% na fracionada e 3,5% na lotação.

O percentual dos que só conseguiram manter o valor do frete é de 36,7% e os que cederam e deram desconto atingiu um pouco mais da metade das empresas com 52,2%. E, neste caso, preocupa o valor do desconto médio concedido que foi de 10,2% que somado à inflação do período atinge algo como 13%.

Uma das consequências pode ser vista no resultado que as empresas tiveram no primeiro semestre do ano, onde 62,8% tiveram piora do resultado e só um pouco mais de quarto (26,1%) disseram que conseguiram melhorar os números. Ainda como registro da situação enfrentada pelo setor no primeiro semestre, há os números do desempenho, onde os pesquisados indicam que este semestre foi pior que o ano de 2019 para 68% deles e, mesmo com a pandemia, 18% afirmaram que o primeiro semestre foi melhor que o ano anterior.

O pior período da pandemia mostrou que a queda média de carga no setor foi de 38,5%, com o seu pico ocorrendo em abril com 43,9% e alcançou negativamente a quase totalidade das empresas – 94% delas.

Trabalhar com 40% a menos de carga trouxe dificuldades que muitas vezes, para quem não está envolvido diretamente, não se vê ou percebe, tais como:

1. Pagamento dos custos fixos diretos e indiretos mesmo com quase metade do faturamento em consequência da queda no volume de carga transportada.

2. O setor teve que cumprir os prazos e manteve uma frequência mínima para os destinos mesmo com 40% a menos de carga. E, assim, mesmo com seus veículos carregados com 60% da sua capacidade, foram realizadas inúmeras viagens arcando-se com os mesmos custos de peças, pneus, combustível entre outros.

3. O abastecimento das localidades cuja economia praticamente parou, com a produção das suas indústrias interrompida, parte do comércio paralisado, e com os escritórios em home office, teve que ser mantido porque a população tem que comer, se medicar, fazer a manutenção das coisas (casa, veículo, eletrodomésticos) etc, assim, o caminhão ia carregado e voltava vazio, e o transportador acabou assumindo mais este custo – o do retorno vazio.

4. Junto com a dificuldade de manutenção do fluxo de caixa, resultado direto pela falta de faturamento e do alto custo fixo da atividade, o aumento da inadimplência e os pedidos de prorrogação do prazo de pagamento acabaram contribuíram substancialmente para o agravamento da situação do transportador.

Além disso tudo, por não terem as características e as funcionalidades dos armazéns,  a capacidade dos terminais das transportadoras se esgotou com o acúmulo de cargas que estavam em trânsito e ficaram paradas devido à falta de recebimento dos destinatários que foram obrigados a fechar as suas portas. Muitos terminais acabaram tendo altos valores estocados superando o valor coberto pelos seguros, gerando maiores riscos aos transportadores e, consequentemente maior custo com o gerenciamento de risco e o aumento do valor assegurado.

 

O Frete baixo

A pesquisa ainda apresenta outros números preocupantes, como a persistente defasagem do valor do frete de 13,6%. Outro dado que chama a atenção é a falta do recebimento dos demais componentes tarifários: 61% não recebem frete-valor e 69% o GRIS. E, ainda, se verifica que em geral o mercado não remunera adequadamente o transportador com relação a custos e serviços adicionais, não contemplados nas tarifas normais.

Outro ponto destacado na pesquisa e que contribui para a situação difícil por que passa o setor é o nível de atraso no recebimento do frete, onde 73,4% das empresas disseram que não está recebendo o frete dentro do prazo estabelecido, comprometendo 12,9% do seu faturamento, o que aumenta o volume necessário e o custo com o capital de giro.

A consequência disso tudo pode ser resumida no seguinte número: 46,7% afirmam não estar conseguindo honrar o recolhimento dos impostos devidos (no início do ano este percentual estava em 40,3%).

Antônio Lauro Valdivia Neto, Especialista em transportes; Engenheiro de Transportes, pós-graduado e Mestre em Administração de Empresas. Assessor técnico da Associação Nacional do Transporte de Cargas – NTC&Logística.

Autoria: Guacira

 

 

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